noticias gerais

Campanha da Tireoide Tem como Tema Fatos e Mitos

por Jornalismo SBEM em 23 de maio de 2023


A SBEM Nacional, através do Departamento de Tireoide, dá início a mais uma campanha de esclarecimento à população e o tema é a tireoide. Há alguns anos o mês de maio é dedicado à glândula, onde são divulgadas mensagens sobre os cuidados e tratamento.

O dia 25 de maio foi escolhido como o Dia Mundial da Tireoide, onde se concentram informações no mundo inteiro. Durante três dias, a SBEM Nacional, o Departamento de Tireoide, Comissão de Campanhas e Regionais da Sociedade farão alertas sobre um assunto específico relativo à informação. Em anos anteriores foram abordados temas como tireoide e gestação, tireoide e coração e nódulos de tireoide.

Segundo o Dr. Danilo Villagelin, presidente do Departamento, este ano a proposta foi abordar um tema extremamente atual e de grande importância: fatos e mitos. “As informações incorretas, equivocadas e inverídicas que estão disponíveis na internet de um modo geral sobre as doenças e tratamentos relacionados à tireoide. Nossa intenção é esclarecer alguns temas polêmicos e controversos para a população de modo objetivo”, explicou o endocrinologista.

Do dia 23 a 25 de maio, serão publicados nas redes sociais da SBEM – Instagram, Twitter e Facebook – publicações, esclarecendo os fatos e mitos a respeito dos problemas da tireoide.

Fatos e Mitos
AS CAUSAS DOS NÓDULOS DE TIREOIDE PODEM SER ESTABELECIDAS

MITO: Os nódulos tireoidianos são mais frequentes em mulheres e com o avançar da idade. Podem resultar de fatores genéticos e ambientais, tais como a insuficiência de iodo, o tabagismo, e a presença de determinados fatores metabólicos e desreguladores endócrinos. Na prática clínica, é difícil estabelecer a causa para os nódulos tireoidianos em um indivíduo em particular. 

A ocorrência dos nódulos da tireoide é determinada pela interação entre FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS.  A susceptibilidade genética é individual (não pode ser modificada). Dentre FATORES AMBIENTAIS e OUTROS, destacamos:

  • IODO é o principal fator ambiental que determina a prevalência de bócio.
  • TABAGISMO (depende do status de iodo, forte associação com bócio em áreas iodo deficientes, ação mediada pelo tiocianato inibidor competitivo da captação de iodo)
  • FATORES METABÓLICOS (obesidade central, hipertensão, diabetes e esteatose hepática são fatores de risco para nódulos tireoidianos)
  • DESREGULADORES ENDÓCRINOS – elementos bociogênicos podem estar presentes na água, na dieta, e no nosso dia a dia, como por exemplo: tiocianato.
  • Outros elementos que podem alterar a saúde tireoidiana são: bisfenol A e ftalatos (presentes nos plásticos, latas, cosméticos…), pesticidas presentes nos alimentos; substâncias químicas da poeira (partículas de fumaça, retardantes de chama e fragrâncias artificiais), teflon (pela presença do ácido perfluorooctanóico) e exposição à radiação.
O APARECIMENTO DE NÓDULOS TIREOIDIANOS PODE SER EVITADO

MITO: Ações relacionadas a uma vida saudável são sempre bem-vindas. A cessação do tabagismo, a utilização de uma dieta equilibrada, a prática adequada de atividade física, e o uso do sal iodado são medidas voltadas para a saúde em geral e tireoidiana. Porém, essas ações não evitam o aparecimento de todos os nódulos da tireoide.

AÇÕES PREVENTIVAS sugeridas:

  • Usar sal iodado (evitar usar o sal mineral sem iodo na dieta e checar no rótulo quando for utilizar de rotina algum outro tipo de sal, por exemplo o sal rosa do Himalaia, se ele contém iodo).
  • Investir em sua saúde. Mudança de estilo de vida incluindo uma dieta mais saudável, menos industrializada.
  • Cessar o tabagismo.

Fontes:

  • KNUDSEN et Al. Risk Factors for Goiter and Thyroid Nodules. THYROID Volume 12, Number 10, 2002
  • XU et al. Prevalence and associated metabolic factors for thyroid nodules: a crosssectional study in Southwest of China with more than 120 thousand populations. BMC Endocrine Disorders (2021) 21:175.
A CAUSA DO CÂNCER DE TIREOIDE PODE SER ESTABELECIDA

MITO: Os cânceres de tireoide podem ou não apresentar caráter hereditário. Além disso, podem estar associados à exposição a elevadas doses de radiação, principalmente na infância. No entanto, na maioria dos casos, a causa não pode ser estabelecida.

Vale lembrar que existem vários tipos de câncer da tireoide sendo o mais comum o papilífero, seguido do folicular. No Brasil, Trata-se do 5º câncer mais comum entre as mulheres.

O câncer de tireoide é mais comum em pessoas com histórico de exposição a altas doses de radiação, histórico familiar de câncer de tireoide, especialmente se mais de três membros da família de primeiro grau já tem o câncer confirmado, e com mais de 40 anos de idade. No entanto, para a maioria das pessoas, não sabemos por que o câncer de tireoide se desenvolve.

A exposição a altas doses de radiação, especialmente durante a infância, aumenta o risco de desenvolver câncer de tireoide.

A exposição à radioatividade liberada durante desastres nucleares (acidente de 1986 na usina de Chernobyl na Rússia ou o desastre nuclear de 2011 em Fukushima, Japão) também foi associada a um risco aumentado de desenvolver câncer de tireoide, particularmente em crianças expostas.

ESTÁ INDICADA A SUPLEMENTAÇÃO DE IODO PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA.

MITO: Não está indicada a suplementação de iodo na população brasileira, uma vez que o Brasil apresenta uma legislação para a iodação obrigatória do sal de consumo humano e tem consumo de iodo considerado suficiente.

O iodo é fundamental para a fabricação dos hormônios tireoidianos e tanto a falta como o excesso de iodo podem causar doenças na tireoide. Em 2021, a Iodine Global Network publicou o mais recente documento sobre o estado nutricional do iodo no mundo e o Brasil foi considerado com consumo adequado de iodo, consequência da estratégia eficiente da legislação brasileira que obriga a adição de 15 a 45 mg de iodo por Kg de sal para consumo humano. Por essa razão, não devemos suplementar iodo de rotina na população brasileira, principalmente com compostos com alta concentração de iodo como, por exemplo, o lugol. O excesso de iodo tem sido associado a hipotireoidismo, hipertireoidismo, doença autoimune de tireoide, aumento do tamanho da tireoide, doenças cardiovasculares e até mesmo câncer de tireoide. Deve ser ressaltado que o monitoramento sistemático da nutrição de iodo no Brasil é fundamental para determinar populações vulneráveis à deficiência de iodo como, por exemplo, as gestantes.
 
Fontes:
· Ramos HE, Campos RO, Souza LSL e Anunciação SM. In: Guia Prático em Doenças da Tireoide capítulo 2: O iodo e a Glândula Tireoide. 1a Edição, São Paulo, Ed Clannad. Pg 29-41.

NÃO EXISTE UMA DIETA ESPECÍFICA PARA A TIREOIDE

FATO: Uma dieta com sal de cozinha marinho (sal iodado) sem exageros, peixes, ovos, folhas verdes escura e castanhas (em especial a do Pará) costuma ter a quantidade ideal de nutrientes que necessitamos diariamente para a saúde de nossa tireoide. Porém, no geral e por enquanto, não há dieta específica recomendada para a tireoide.

Infelizmente e de forma inadvertida, ainda muitos pacientes procuram evitar a terapia convencional com reposição de levotiroxina e, em vez disso, recorrem a abordagens alternativas e dietéticas para o tratamento de doenças da tireoide, CONTUDO, muitas das abordagens mais populares e divulgadas na mídia não têm benefícios comprovados ou não foram bem estudadas.

Enquanto isso, alguns pontos merecem destaque: as necessidades diárias de iodo são de 150 µg para adultos e 250 µg para grávidas ou mulheres em amamentação.

RECOMENDAÇÃO IMPORTANTE PARA AQUELES QUE TÊM HIPOTIREOIDISMO: tome a medicação de reposição do hormônio tireoidiano conforme indicado pelo seu médico e geralmente com o estômago vazio. É importante ressaltar que muita fibra alimentar pode prejudicar a absorção da medicação de reposição do hormônio tireoidiano, assim como certos alimentos, suplementos e medicamentos.

Portanto, evite tomar o hormônio tireoidiano ao mesmo tempo que:

  • Nozes, farinha de soja, farelo de algodão, suplementos de ferro ou multivitaminas contendo ferro, suplementos de cálcio, antiácidos que contenham alumínio, magnésio ou cálcio, alguns medicamentos para úlcera, como o sucralfato, alguns medicamentos para baixar o colesterol, como os que contêm colestiramina e colestipol.

Para evitar possíveis interações, coma esses alimentos ou use esses produtos várias horas antes ou depois de tomar seu medicamento para tireoide.

Suplementos contendo biotina, comuns em preparações para cabelos e unhas, podem interferir na dosagem do hormônio tireoidiano. A biotina não afeta os níveis de hormônio da tireoide, mas os suplementos devem ser interrompidos por pelo menos uma semana antes de medir a função da tireoide, para que o status da tireoide seja refletido com precisão.

Cuide de sua tireoide com uma alimentação saudável, evitando dietas extremas.

Se você tiver dúvidas, converse com seu médico especialista.

Fontes:

Larsen D. et al. Thyroid, Diet and Alternative Approaches. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, 2022, 107, 2973–2981 – https://doi.org/10.1210/clinem/dgac473

Angela M. Leung, MD, MSc; Gonzalo J. Acosta. COMMENTARY ‘Thyroid Diet’: What’s the Evidence? | December 31, 2020- Medscape- Perspective American Thyroid Association (ATA).

Ann Kearns, M.D., Ph.D. Is there any truth to the hypothyroidism diet? Can certain foods increase thyroid function? The Mayo Clinic Health Information, June 01, 2021.

OS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS NÃO DEVEM SER USADOS PARA AJUDAR NO EMAGRECIMENTO.

FATO:  O uso de hormônios tireoidianos não é recomendado para auxiliar no processo de emagrecimento em indivíduos com função tireoidiana normal.

Embora alguns estudos sugerissem possíveis mecanismos pelos quais os hormônios tireoidianos poderiam apresentar certo efeito sobre a perda de peso, vários trabalhos científicos têm relatado baixa eficácia, além de associação com perda de massa magra e ocorrência de efeitos deletérios sobre o metabolismo ósseo e o estado afetivo. Além disso, o excesso de hormônios tireoidianos pode favorecer a ocorrência de arritmias, insuficiência cardíaca e eventos isquêmicos. Dessa forma, esses hormônios não devem ser utilizados com o objetivo de perda de peso.

Fontes:

Pasquali R, Casanueva F, Haluzik M, van Hulsteijn L, Ledoux S, Monteiro MP, Salvador J, Santini F, Toplak H, Dekkers OM. European Society of Endocrinology Clinical Practice Guideline: Endocrine work-up in obesity. Eur J Endocrinol. 2020 Jan;182(1):G1-G32.

NÃO DEVEMOS MANIPULAR HORMÔNIOS TIREOIDIANOS

FATO: Não é seguro usar formulações manipuladas dos hormônios tireoidianos.

Para o tratamento do hipotireoidismo é realizada a reposição do hormônio tireoidiano T4 na forma sintética, a levotiroxina sódica, sendo que pequenas variações na dose de levotiroxina administrada ou na quantidade absorvida podem ter consequências clínicas. Desta forma, o controle na produção do medicamento deve ser rigoroso e fiscalizado por órgãos competentes. Além disso, como não é possível garantir a bioequivalência entre as diferentes formulações comerciais, é recomendável que os pacientes evitem mudanças na formulação durante o tratamento, para evitar variabilidade de uma formulação para outra.

Fontes:

– AACE, TES and ATA Joint position statement on the use and interchangeability of thyroxine products. https://www.aace.com/files/position-statements/aace-tes-ata- thyroxineproducts.pdf. Acessado em 30 março, 2023.

– Brenta G, Vaisman M, Sgarbi JA, Bergoglio LM, Andrada NC, Bravo PP, Orlandi AM, Graf H; Task Force on Hypothyroidism of the Latin American Thyroid Society (LATS). Clinical practice guidelines for the management of hypothyroidism. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2013 Jun;57(4):265-91. English, Portuguese. doi: 10.1590/s0004-27302013000400003. PMID: 23828433

 

Campanha da Tireoide foi desenvolvida pelo Departamento de Tireoide: Dr. Danilo Glauco Pereira Villagelin Neto (SP), presidente; Dr. Rafael Selbach Scheffel (RS), vice-presidente; e os diretores: Dra. Fernanda Vaisman (RJ), Dra. Gláucia Maria Ferreira da Silva Mazeto (SP), Dr. Cléo Otaviano Mesa Júnior (PR), Dra. Susan Chow Lindsey (SP) e Dra. Raquel Andrade Siqueira (GO). Comissão de Campanhas: Dra. Mariana Guerra (presidente) e Dra. Rosália Padovani