Distribuição Idade-específica do TSH e Anticorpos anti-tireoidianos na População Norte-americana; Implicações na Prevalência do Hipotireoidismo Subclínico

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Distribuição Idade-específica do TSH e Anticorpos anti-tireoidianos na População Norte-americana; Implicações na Prevalência do Hipotireoidismo Subclínico

por site em 11 de janeiro de 2008


J Clin Endocrin Metab – 2/out/2007 ( ahead of print )
Martin I.Surks and Joseph G.Hollowell

Departments of Medicine and Pathology, Montefiore Medical Center and the Albert Einstein College of Medicine, Bronx , New York (M.I.S.)and Department of Pediatrics, University of Kansas Medical Center, Kansas City, Kansas (J.G.H.). 

Por: Dr. Helton Estrela Ramos
Hospital de Clínicas – Unidade de Tireóide – Universidade Federal do Paraná

Este estudo avaliou a distribuição idade-específica do TSH sérico e anticorpos anti-tireoidianos de uma população cuidadosamente caracterizada como normal (sem doença tireoidiana ou outro fator de interferência), com o intuito de identificar possíveis discordâncias nos considerados valores de referência entre indivíduos com diferentes faixas etárias. Uma vez que o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico depende, sobretudo, de níveis elevados de TSH, é de extrema importância estabelecer qual seria o valor de limite normal máximo de referência. Isto adquire ainda maior relevância após recentes e extensas discussões sobre a redução do valor de referência máximo do TSH para 2.5 mUl/L.

As populações do NHANES III (1988-1994) e NHANES 1999-2002 foram envolvidas nesta análise, representando o maior estudo de análise populacional publicado na literatura, envolvendo um total de 17.557 indivíduos, que foram estratificados em diversas categorias de concentração do TSH: <0.4, 0.4-2.49, 2.5-4.5 e >4.5 mUI/L.

A percentagem de indivíduos enquadrados na categoria de 0.4-2.49 mUI/L decresce progressivamente com a idade, particularmente após os 50 anos, passando de 88.8% dos indivíduos com 20-29 anos de idade para apenas 61.5% na faixa com mais de 80 anos; importante salientar que positividade de anticorpos anti-tireoidianos foi critério de exclusão para esta análise. Da mesma forma, um significante aumento na prevalência de TSH > 4.5 mUI/L ocorre com o envelhecimento nesta população normal, passando de 2% nos indivíduos com 20-29 anos para 12% naqueles com mais de 80 anos.

Os dados obtidos levantam uma série de questionamentos importantes. O valor normal limítrofe de TSH atualmente utilizado (percentil 97.5), 4.5 mUI/L, derivado da análise combinada de indivíduos de todas as faixas etárias, seria adequado para indivíduos mais velhos? O atual dado de uma prevalência aumentada de hipotireoidismo subclínico na população de pacientes mais idosos, baseando-se em valores de referência atualmente aceitos (4.5 mUI/L), pode representar um erro diagnóstico? Este estudo populacional aponta que valores de referência realmente divergem entre indivíduos mais jovens e idosos.

A explicação para o deslocamento do valor de referência do TSH em idosos não é muito óbvia. Poderia ser somente conseqüência do processo de envelhecimento saudável ou indicar insuficiência tireoidiana mínima. Isto poderia ser também explicado pelo fato da população idosa comumente usar medicações que potencialmente interfiram na eficiência de interação entre o TSH e seu receptor, ou na produção de AMP cíclico. Uma outra possibilidade seria uma relativa hiposensibilidade do eixo hipotálamo-hipofisário com a idade, ou a síntese de uma molécula de TSH biologicamente menos ativa (secundário ao envelhecimento ou medicamentos).

Em conclusão, o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico deveria ser cuidadosamente avaliado na população mais idosa. Sobretudo porque os atuais estudos populacionais indicam que parece haver uma mudança do limite superior do TSH (97.5 percentil) nestes indivíduos. Tratamento desnecessário com levotiroxina pode não trazer benefício para este grupo e até pode desencadear algum efeito adverso na sua saúde.