Dra. Ruth Clapauch – Coordenadora da Divisão de Endocrinologia Feminina e Andrologia, Setor de Endocrinologia, Hospital da Lagoa, Ministério da Saúde; Professora de Pós-Graduação em Endocrinologia, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro.
Os últimos estudos sobre Terapia Hormonal da Menopausa (THM) produziram questionamentos quanto à sua real eficácia, efeitos adversos, doses e esquemas seguramente recomendados. Estas incertezas alavancaram o desenvolvimento de produtos com quantidades menores de hormônios e novos progestógenos.
Tem sido sugerido que a THM em baixas doses promoveria efeitos benéficos semelhantes à convencional com menores riscos. Desde o Estudo HOPE foram observados menores efeitos colaterais com THM em baixas doses, porém a melhora do perfil lipídico, dos sintomas vasomotores e diminuição da reabsorção óssea foram proporcionais à dose utilizada. A sintomatologia climatérica dura em geral de 2 a 5 anos , atenuando-se com o decorrer do tempo. Em nosso Serviço, onde a THM é individualizada de acordo com as queixas da paciente, pesquisamos a dose usada por 115 mulheres, escolhidas aleatoriamente, sem sintomas de hipoestrogenismo ou efeitos colaterais da medicação, com média de idade de 53,57 anos (41- 77) e tempo médio de menopausa de 7,74 anos (1- 29) . THM em baixas doses foi mais prevalente em mulheres após 55 anos de idade ou 7 anos de menopausa e nas que apresentavam mioma (p=0,017). Como sangramento indesejado é a principal causa de abandono de tratamento, baixas doses podem contribuir para a adesão, evitando sangramentos imprevisíveis. Não houve associação de dose com IMC, histerectomia, ooforectomia e alterações mamárias.
A medroxiprogesterona, progestógeno com efeito glicocorticóide , foi implicada em muitos dos resultados negativos dos estudos randomizados sobre THM. A busca por novos progestógenos , mais semelhantes à progesterona natural, foi acelerada. Além da atividade progestogênica,podem ocupar outros receptores esteróides, produzindo os efeitos a seguir:
Antimineralocorticóide |
Glicocorticóide |
Androgênico |
Antiandrogênico |
|
Progesterona |
sim |
não |
não |
(fraco) |
Dihidrogesterona |
(fraco) |
não |
não |
(fraco) |
Trimegestona |
(fraco) |
não |
não |
(fraco) |
Drosperinona |
sim |
não |
não |
sim |
Nomegestrol |
não |
não |
não |
(fraco) |
Ciproterona |
não |
sim |
não |
forte |
Gestodeno |
sim |
sim |
sim |
não |
Norgestimato |
não |
não |
sim |
não |
Dienogest |
não |
não |
não |
sim |
Se bem usadas,estas propriedades podem constituir vantagem. Em mulheres hipertensas drogas natriuréticas seriam úteis; nas hirsutas a ação anti-androgênica seria desejável, e assim por diante. Novos esquemas de tratamento vem sendo explorados, como uso de progestógeno intermitente a cada 3 dias, de THM através de DIU e a pulsoterapia , através do estradiol nasal. Com isso, aumentam as opções do médico.
Atenção deve ser dada sobretudo à paciente. Os estudos observacionais mostraram resultados benéficos em cerca de 180.000 mulheres que usaram THM durante mais de 20 anos em doses convencionais com medroxiprogesterona. Porém estas mulheres foram selecionadas,submetidas à triagem clínica específica , e no início da menopausa .
O tipo de progestógeno e a dose ideal de THM capazes de devolver o equilíbrio e qualidade de vida são peculiares a cada paciente e decrescem com o decorrer do tempo.