Obesidade X Expectativa de Vida

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Obesidade X Expectativa de Vida

por site em 20 de março de 2009


Por Flavia Garcia

Um estudo publicado na revista The Lancet, esta semana aborda a relação do IMC (Índice de Massa Corporal, calcule o seu aqui) com a mortalidade, mostrando que o excesso de peso diminui a expectativa de vida. A análise, realizada pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, reuniu dados de 57 estudos feitos na Europa e na América do Norte com quase 900 mil pessoas.

Em resumo, os resultados do estudo mostram que, em ambos os sexos, a taxa de mortalidade foi mais baixa nas pessoas com IMC entre 22,5 e 25 kg/m2. Foi detectado que a cada 5kg/m2 a mais no IMC, aumenta em 30% a taxa de mortalidade geral. Associando a outros fatores de risco, essa taxa aumentou  40%, nos casos de doença vascular; 60 a 120%, nos casos de diabetes e suas complicações; 10% para a mortalidade por neoplasias e 20% para os problemas respiratórios. Colocando em anos, a obesidade moderada (entre 30,0 e 39,9kg/m2) reduziu a expectativa de vida entre dois e quatro anos. Já nos casos de obesidade severa (acima de 40kg/m2) a diminuição foi entre oito e dez anos.

Gary Whitlock, um dos autores do estudo, afirmou em um comunicado à imprensa mundial, que “pesar um terço a mais do ideal pode reduzir a expectativa de vida em 3 anos. Para a maioria, isso significa 20 ou 30 quilos a mais”. “É mais fácil evitar o ganho de peso do que perdê-lo depois que o excesso já está presente”, completou o pesquisador.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde, obtidos através do sistema Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), no ano passado, mostram que o percentual de obesos aumentou de 11,4% (em 2006) para 12,9% (em 2008). Isso confirma a idéia de que a obesidade vem tomando a forma de uma epidemia, sendo um caso de saúde pública, para o qual os governantes precisam estar atentos.

O Dr. Márcio Mancini – diretor do Departamento de Obesidade da SBEM; médico responsável pelo Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do HC-FMUSP; e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) – respondeu algumas questões para esclarecer as respostas do estudo. Confira a entrevista abaixo:

Equipe de Reportagem da SBEM: A pesquisa da Universidade de Oxford concluiu que cada 5 kg/m2 a mais no IMC resulta em um aumento de 1/3 nas taxas de mortalidade. Esta informação é uma novidade no mundo científico?

Dr. Márcio Mancini: Sim e não. Sabe-se que a obesidade reduz a expectativa de vida e que equipara-se à de um fumante, mas o aumento de 1/3 a cada 5 kg/m² é alarmante.

Equipe de Reportagem da SBEM: Os pesquisadores compararam a relação do aumento do IMC e do tabagismo (assim como com outros problemas de saúde), com a mortalidade em geral.. Quais seriam os principais fatores de risco que, associados ao aumento do IMC, aumentam a mortalidade?

Dr. Márcio Mancini: Inúmeras doenças associadas à obesidade aumentam as taxas de mortalidade. Podemos citar desde hipertensão, diabetes, dislipidemia, apneia do sono, infarto e acidente cerebrovascular, até alguns fatores de relação menos conhecidos como câncer, arritmias cardíacas, insuficiência renal, dificuldade em diagnósticos, etc.

Equipe de Reportagem da SBEM: Qual o real impacto destas constatações para a população em geral?

Dr. Márcio Mancini: Importantíssimo. Esse tipo de constatação: “ser obeso tira anos de vida” é uma forte motivação para que o paciente procure tratamento e não subestime o seu estado.

Equipe de Reportagem da SBEM: De acordo com dados do Vigitel 2008, o número de obesos no Brasil continua crescente – cerca de 40% da população brasileira tem problemas com a balança, sendo que 12,9% já são declaradamente obesos. Como o senhor acha que este quadro pode ser estagnado?

Dr. Márcio Mancini: Não acho que vai ser. O investimento em educação, estrutura dos municípios etc, deveria ser muito intenso. E, mesmo os países desenvolvidos não estão tendo sucesso na prevenção da obesidade. Um início é capacitar os profissionais das unidades básicas de saúde a orientar os obesos – isso ainda não acontece.